“Pensem bem, e depois voltem a pensar!”
Pela mesma Victoria, cidade de espera entre ligações de transportes, há um Ford antigo que chama a atenção pela forma como é cuidadosamente cuidado. O seu dono, cujo nome nunca revelou, mostra com agrado e sem muito esforço o seu Ford AA creme. Aponta para a águia gravada na parte frontal do carro, e mostra o interior do carro cheio de pequenas preciosidades, como os autocolantes de aranhas que colou no tecto. Ri-se orgulhoso. “Já estava tudo assim! Eu comprei-o ao antigo dono e agora dou-lhe o mesmo carinho que ele recebia antes.”
O carro é religiosamente guardado na garagem e só o tira para lhe dar algum uso, e para aproveitar fazer umas limpezas. Vê-se que tem gosto pela ostentação do seu carro, miraculosamente limpo.
“Quando era novo fui para a Austrália de navio”, conta. Em tempos o governo de Malta enviou habitantes para a grande ilha. Acordos entre os dois países ofereciam trabalho em terras necessitadas de mão-de-obra e de população. Estratégias de repovoamento e de diminuição da taxa de desemprego que levavam os malteses em longas viagens pagas de navio. A oportunidade de começar uma vida nova, que este senhor não soube agarrar. Tristemente abana a cabeça e diz que voltou ao fim de quatro anos lá. Porquê? Não o sabe ao certo, mas agora está arrependido. “Está muito mal, não há dinheiro, nem emprego.”
Em Malta a hospitalidade e o inglês perceptível e fluente de uma população pobre continua a surpreender, mas a necessidade assim fez o hábito. Agora vivem do turismo inglês e alemão. Do domínio do Reino Unido até 1964 ficaram os carros com volante à moda britânica, que fazem da República de Malta um destino de eleição, e um paraíso económico para os súbditos de Sua Majestade. Para os malteses a situação não se assemelha igual, e encontra-se quem esteja disposto a dar um conselho, em troca de uns minutos de atenção: “Um erro nas vossas escolhas arruína-vos a vida toda”, acrescenta o senhor do Ford. “Enquanto se é novo, pensem. Pensem bem. E depois, pensem de novo.”
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