Lisboa. Largo do S. Carlos.
19h45 e está um óptimo ambiente. Ouve-se música, o lusco-fusco chega devagar, a temperatura está amena e há mesmo quem desfrute de tudo isto do alto de um prédio antigo. Que bem se deve estar num terraço virado para o S. Carlos!
Um menino, no meio das pessoas despreocupadas, que ouvem música, faz bolas de sabão.
As bolas de sabão são mágicas! Quem não gostava de as fazer e segui-las até o olhar se perder ou até rebentarem?
Aí ficávamos tristes mas voltávamos a tentar. Queríamos sempre a bola de sabão perfeita e éramos persistentes com isso!
Por isso, as bolas de sabão sempre me reportam para a felicidade despreocupada de se ser criança.
No meio disto está uma senhora preocupada com as bolas que vão na sua direcção. Rebenta as que consegue e diz (com ar enjoado) à criança para se chegar mais para o lado.
Olho para tudo isto de fora e pergunto-me o que vai na cabeça daquela senhora para se sentir incomodada com as bolas de sabão. Em que momento da nossa vida se faz o clique e deixamos que pequenas coisas não façam a nossa felicidade?
Quando é que passa a ser uma questão de vida ou morte não se sujar a roupa?
Porque nos esquecemos de sorrir à simplicidade?
Pois, não sei...
ResponderEliminarAcho que ainda me lembro da última vez em que me interroguei sobre qualquer coisa parecida. Lembro-me de caminhar com um pequeno grupo de pessoas conhecidas, no princípio da Rua Augusta, em direcção ao rio... num dia tranquilo, um fim de tarde perfeito. Lisboa tem tanto para observar... basta caminhar um bocado com os olhos e o coração abertos. A cada passo, eram a mulher estátua, o fumo das castanhas e os turistas que provavam em grupo os famosos pastéis de nata, comendo-lhes o creme com colheres de café, que me arrancavam todos os sorrisos. Aos poucos, perdi de vista quem ia comigo... não lhes parecia importante contemplar e viver as pequenas coisas que dão alma à cidade que é a minha mas é a deles também, e todo o caminho riam, gracejavam acerca das suas próprias dissertações acerca da crise, das medidas de austeridade, dos impostos...
Passou por mim um artista de rua, um daqueles mimos a quem nunca ouvimos a voz, mas que falam com a expressão, o olhar e o gesto; esticou as mãos na direcção do meu rosto que então se voltava para o chão e, sem me tocar, foi como se me fizesse levantar a cabeça. Com os dedos das duas mãos esboçou então a forma de um sorriso... ele mandou-me levantar a cabeça e sorrir. Afinal, no meio da multidão, e por entre tanta gente indiferente, também há pessoas capazes de ler a tristeza em ti e fazer-te sorrir.