quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Senhores do Destino (parte 3)

Escolher e arriscar

            Mariusz Musialsky, um polaco de 38 anos, olhos claros e ar bastante descontraído, decidiu começar cedo a escolher o seu caminho. Com o sol já alto e a luminosidade do Tejo a fazer-se sentir no terraço de Alcântara onde se encontra, acompanhado dos óculos de sol e de um copo de água. “Tive uma noite difícil!”, comenta.
 Aos 20 anos abandonou os estudos e foi para Londres ganhar dinheiro. Era uma altura em que os polacos não tinham autorização para trabalhar no Reino Unido, por isso Mariusz viu-se obrigado a trabalhar clandestinamente em tudo o que lhe era possível.
            Sabia o que queria: ser uma estrela do rock, e era simples: “É sempre uma questão de não pensar. Agir com um clique de dedos”.
Antes de partir para Londres tinha lido um artigo sobre uma escola de música em Los Angeles, Hollywood. “Toda a minha vida sonhei ir para os E.U.A.”, diz. “Naquele ponto encontrar aquela oportunidade foi como um 2 em 1. Tinha a escola boa, e o melhor sítio de todos para entrar no mundo do espectáculo… Não podia ficar melhor”.
Apoiado pelos pais seguiu a sua vontade, e depois de Londres partiu para Los Angeles. Viveu tempos de sacrifico para obter aquilo que queria. Pagou a escola por inteiro para que não houvessem possibilidades de falhar o seu objectivo, diz que se não o fizesse, não acabaria a escola porque “quando se tem dinheiro, não se quer ir trabalhar, e quando se estuda e não se tem dinheiro, não há hipótese senão fazê-lo”. Ficou com pouco dinheiro, por isso poupava na comida que ingeria.
A sorte acabou por sorrir-lhe, e conseguiu um trabalho simples a ajudar em limpezas e reparações. Mariusz relembra: “Estava novamente vivo! Não era muito dinheiro, mas era o que precisava para comer, para alugar um apartamento, era tudo o que precisava naquele momento”.
Depois de um estágio promissor com grandes nomes da música, Mariusz sentia-se pouco confiante, dava pouco valor ao seu trabalho, portanto nunca se sentiu capaz de mostrar as letras que começou a escrever. “Foi pena, eu queria mesmo ser uma estrela do rock, e descobri que não sou esse tipo de pessoa, e conhecer o Desmond Child (conhecido produtor musical) fez-me começar a querer escrever canções e descobrir esse meu gosto”.
Não acreditou em si, e hoje diz que voltava atrás e tentava o que não tentou. “É importante ter-se confiança em nós e tentar”. É a ideia que tenta passar com a sua história de vida.
Regressou à Polónia para trabalhar como manager de uma discográfica. “Passo a passo fui conseguindo”, conta. E acabou por ficar no meio durante 8 anos, “só para descobrir que o detesto”, afirma. Foi aí que Mariusz rompeu com todas as ligações a uma indústria que o estava a comandar. Impera o que vende mais, independentemente das convicções pessoais, e isso deixou de lhe fazer sentido.
Vendeu o negócio discográfico, e o dinheiro investiu-o na bolsa. Conta que um amigo o ensinou o que precisava de saber, e começou a ler jornais, artigos, e websites. “Passo a passo, consegue-se aprender tudo o que quisermos”, diz.
 Planos não lhe faltam na sua nova vida de liberdade. Planeia produzir o seu próprio álbum, comprar uma casa em Portugal para viver permanentemente, e realizar períodos de trabalho intercalados com períodos de viagens.
As oportunidades fazem a vida, as escolhas desenham os caminhos. Nem todos se sentem senhores de um destino que por si só é feito de crenças e religiões. Para alguns, o destino constrói-se, para outros, nasce connosco e não pode ser evitado. No fim, independentemente do que se acredita, todos olham para trás e perdem-se nas encruzilhadas do seu próprio fado. Todos acreditam que se poderia mudar algo, e alguns ainda o tentam, antes que o tempo fuja.
Para Mariusz não haverá melhor altura do que o presente. Diz ser para ele uma espécie de “agora ou nunca”.
As decisões crê não as ter tomado todas por ele próprio. Teve uma relação que influenciou muito, pois se não tivesse acabado, se calhar não teria parado para pensar. Às vezes isso sucede, e há quem se esqueça de se ouvir.
Seremos nós os senhores de um destino, ou será este o nosso senhor?
Mariusz não tem a resposta clara: “A minha vida virou-se ao contrário por causa do fim da relação, por isso, foi o momento perfeito para mudar de vida. Perfeito.”