segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Senhores do Destino (parte2)

“Pensem bem, e depois voltem a pensar!”
           
            Pela mesma Victoria, cidade de espera entre ligações de transportes, há um Ford antigo que chama a atenção pela forma como é cuidadosamente cuidado. O seu dono, cujo nome nunca revelou, mostra com agrado e sem muito esforço o seu Ford AA creme. Aponta para a águia gravada na parte frontal do carro, e mostra o interior do carro cheio de pequenas preciosidades, como os autocolantes de aranhas que colou no tecto. Ri-se orgulhoso. “Já estava tudo assim! Eu comprei-o ao antigo dono e agora dou-lhe o mesmo carinho que ele recebia antes.”
            O carro é religiosamente guardado na garagem e só o tira para lhe dar algum uso, e para aproveitar fazer umas limpezas. Vê-se que tem gosto pela ostentação do seu carro, miraculosamente limpo.
            “Quando era novo fui para a Austrália de navio”, conta. Em tempos o governo de Malta enviou habitantes para a grande ilha. Acordos entre os dois países ofereciam trabalho em terras necessitadas de mão-de-obra e de população. Estratégias de repovoamento e de diminuição da taxa de desemprego que levavam os malteses em longas viagens pagas de navio. A oportunidade de começar uma vida nova, que este senhor não soube agarrar. Tristemente abana a cabeça e diz que voltou ao fim de quatro anos lá. Porquê? Não o sabe ao certo, mas agora está arrependido. “Está muito mal, não há dinheiro, nem emprego.”
            Em Malta a hospitalidade e o inglês perceptível e fluente de uma população pobre continua a surpreender, mas a necessidade assim fez o hábito. Agora vivem do turismo inglês e alemão. Do domínio do Reino Unido até 1964 ficaram os carros com volante à moda britânica, que fazem da República de Malta um destino de eleição, e um paraíso económico para os súbditos de Sua Majestade. Para os malteses a situação não se assemelha igual, e encontra-se quem esteja disposto a dar um conselho, em troca de uns minutos de atenção: “Um erro nas vossas escolhas arruína-vos a vida toda”, acrescenta o senhor do Ford. “Enquanto se é novo, pensem. Pensem bem. E depois, pensem de novo.”

sábado, 29 de janeiro de 2011

Senhores do Destino (parte 1)

A vida é construída com escolhas, falhas e oportunidades. Ou será que não? Maria Maltia, o senhor do Ford e Mariusz Musialsky pouco ou nada têm em comum nas suas vidas, excepto o poder de decidir por elas. Em retrospectiva ficam histórias de vidas, arrependimentos e opções. Seremos nós os que ainda podemos decidir?

            A manhã começa cedo em Victoria, na ilha de Gozo. Esta ilha mediterrânica que faz parte da República de Malta está ainda longe da influência dos novos tempos de inovação tecnológica, e do rebuliço dos grandes pólos urbanos europeus.
Com uma área de 67 km², é a segunda maior ilha de Malta, mas claramente ainda não sentiu o desenvolvimento turístico que caracteriza a ilha principal.
Dominada pelo calcário amarelo tanto nos terrenos, como nos edifícios onde é usado como material de construção e raramente pintado, muitas vezes ocorre parecer estar-se numa região desértica do norte de África.
            Victoria, é a sua cidade principal, ponto de ligação entre todos os autocarros que se destinam a diferentes partes da pequena ilha. Para onde quer que se vá, tem de se passar em Victoria para trocar de transporte. E sendo, normalmente, esperas prolongadas há tempo para explorar um pouco.
            A história de Gozo está conectada com a de Malta, visto sempre ter sempre sido governada por esta, excepto na altura de Napoleão, que conquistou as ilhas e cedeu independência a Gozo entre 1798 e 1800.
            Da sua longa história de conquistas e reconquistas, ficou um património rico em história, e uma cativante mistura de culturas e línguas.
            Na Europa de hoje ainda existe um local onde se conseguem transportes por menos de 50 cêntimos e apartamentos para alugar acessíveis. As vias de transporte são poucas por isso é recorrente conseguir apanhar-se boleia de algum tractor que passa. Vive-se da agricultura, e do turismo.

Maria Maltia

            Em Victoria, pelas ruas estreitas da cidade antiga, e ao lado de uma porta cheia de postais e artesanato local, encontra-se uma porta de madeira, cuidadosamente tratada, com permissão apenas para a parte superior desta estar aberta. Dentro, uma senhora de ar simpático, cabelos brancos e avental florido, olha concentrada através dos seus óculos grandes para um apoio cilíndrico que suporta uns alfinetes finos e com cabeças de várias cores.
            Esta actividade chama a atenção, e Maria Maltia, como faz questão de se apresentar contente pela rima, recebe amistosamente os curiosos. Num sorriso sincero e com um inglês extraordinariamente fluente para uma pessoa que aparenta não ter menos de 80 anos, explica o seu trabalho.
            “Isto cruza-se esta linha com esta. Assim. E agora passa esta. Assim.” Explicou e repetiu com um gosto que transparecia a dedicação que dava àquela arte. Maria trocava e cruzava linhas finas com uma habilidade jovial. Pregava mais um alfinete e pegava noutro que seguia percurso idêntico. O resultado demorou a ser perceptível, mas alguns exemplares já estavam em exposição à espera de serem comprados.
            Ninguém o percebe porque não há publicidade a tal. Mas Maria fala do resultado final, umas pequenas peças rendilhadas e de cores diferentes: “Podem servir para colocar nos livros. Como marcadores. Se quiser dar uma ajuda… cada um dá aquilo que puder”, diz enquanto mostra a caixa de notas e moedas que guarda perto de si.
            Maria desperta a curiosidade, sentada junto à porta e ao final das escadas daquilo que aparenta ser a sua casa. Bijutarias penduradas pelas paredes brancas, a garrafa do gás apoiada no último degrau. O seu ar compenetrado torna-se fascinante, e ela continua a conversar, como se não precisasse de o fazer, mas sim por querê-lo.
            Desde pequena que vive em Victoria, e nunca aprendeu a ler nem a escrever. A sua vida e o seu trabalho nunca diferiram muito daquilo que se conta por cá sobre o Portugal de antigamente. Gozo, era e é uma ilha pobre, mas que sofreu influências inglesas, por isso, Maria foi servir às mesas num dos melhores hotéis da ilha. “Foi daí que aprendi o meu inglês”, explica. “Tive de o aprender para me desenrascar!”
            A sua vida não foi feita de oportunidades, talvez porque não as tenha procurado. O facto é que pergunta avidamente qual o país de origem e o porquê de se estar ali. Ao responder “Portugal”, Maria faz um ar pensativo e pensa já cá ter estado. “Eu só saí uma vez da ilha, e foi para visitar o meu filho que está na Austrália”. Austrália, pensa-se! Destino tão ambicionado por tantos que parece ironia. Prossegue: “E eu lembro-me que tivemos de mudar de avião. Parece-me que foi em Portugal.”
            A sua fala é sempre pausada e perceptível, mas desta vez a memória parece falhar-lhe. Está quase certa que parou em Portugal, mas não está nada certa da sua localização. Viajar pode ser uma coisa confusa, principalmente para quem não está habituado.
            Maria conta com uma certa nostalgia como o seu filho está muito longe, e como o que recorda melhor da tão grande Austrália são os momentos com ele. Depois prossegue o diálogo falando de câmbios e moedas. Isto do euro faz-lhe muita confusão. “Eu não percebo nada. Por isso tenho sempre que me auxiliar para não ser enganada”, conta, enquanto pega num pequeno caderno como os distribuídos no início das campanhas de mudança da moeda. Uma cábula com os valores e equivalências para a antiga, a lira maltesa.
            Agora vive do que consegue bordar, já com o peso da idade na vista. “A reforma não chega para nada, isto aqui é tudo muito pobre. Lá vou conseguindo estes dinheiros!”, desabafa enquanto a concentração se direcciona para a sua arte.
            Ao perguntar-lhe por algum restaurante ali perto para se comer qualquer coisa, Maria pára de bordar. Silêncio. Depois continua compenetrada e abana a cabeça: “Não sei… Aqui é tudo caro. É muito caro ir ao restaurante. Melhor comprar no supermercado e fazer.”
            Antes de ir, uma última confissão: “Eu nunca pude ir a lado nenhum, excepto à Austrália. Aproveitem bem. Divirtam-se. Porque eu nunca tive tempo para isso porque nunca tive um carro…”. Repetiu-o várias vezes, como se quisesse deixar bem ciente e memorizado que para onde a tristeza lhe fugia era para o tempo que passou rápido demais e não o soube controlar. “Nunca tive um carro. Nunca pude aproveitar.”

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

10 things to do in Lisbon, Portugal

Lisbon is a wonderful river planted city, full of light and with a small city center that can offers you a pleasant time. The smallest the city center is, bigger are the opportunities to discover everything in your own rhythm! With her seven hills, neighborhoods composed by narrow streets, old buildings that seemed to lost the color but never the history, you have thousands of things to experiment… just let your senses choose it!
 I’ll try to put in a list the 10 things to do in Lisbon, but… have your time!… And welcome to the city of the Fado, the sea and the “saudade”!

Lisbon
1 – Observe the entire city from the top of the hill of the city castle “Castelo de S. Jorge”. You have to pay the entry but you can learn a little about the city history and the view is definitely worthwhile.
View to Castelo de S. Jorge





2 – Drink a cold beer in one of the most belvederes that the city offers. You can choose if you want to have a view for the city (S. Pedro de Alcântara), for one or another hill (Santa Lúzia, Graça, Nossa Senhora do Monte) or for the Tagus river and the south margin(Santa Catarina, best known as Adamastor).

3 – Read a book in the esplanade of the Brasileira and observe the people around you.


Brasileira is one of the oldest and most famous cafés in Lisbon.Located in the center, so you can enjoy the life and the city movement. The epic Portuguese writer, Fernando Pessoa, (1888 -1935, Portuguese poet, writer, literary critic and translator) used to gather here with other writers to discuss ideas or spend his afternoons, so you can take a photo with his immortalized statue that is seated in the outside tables.

4 – Drink a Ginginha in the Rossio square. 
Ginginha is the typical drink in Lisbon, Alcobaça and Óbidos. You can enjoy this liqueur made by infusing ginja berries in aguardente with sugar together and other ingredients, and drink it in a small glass outside. You can taste slowly this sweet drink while you taste also the bustling environment of Rossio.

5 – Get lost in the old neighborhoods streets, as Bica, Alfama, and Mouraria. The tiny and labyrinthic streets can offer you a lot of small details, while you are offered a magnificent view to the Tagus River. And maybe you can find someone who can talk with and tells you a little about his history.
Bica
           
6 – Go to Bairro Alto at the end of the day, and observe the rising of the night.
It’s interesting to see the day life of one of the most known Lisbon neighborhoods. Full of little conventional stores and local trade, when the night comes, the restaurants seem to gain life, you can feel the smell of food and see the tables to eat outside. There are also good restaurants to eat while you listen alive the traditional Portuguese music, fado. As the night progresses this neighborhood fulfills of people that come to drink a beer or a cocktail in one of the many bars. Usually people drink in the street while are talking and meeting friends. Some streets can be very full during Thursday, Friday and Saturday’s nights. Here always begins the city night.

7 – Catch the 28 yellow tram.
This legendary “eléctrico 28” gets you closer to the mainly attractions, and it’s very cheap to do this tour! There are many expensive tours on sightseeing  buses, but a ride in this one will make you feel the city and breath a little of its life!

8 - Go to the Oceanarium, designed by Peter Chermayeff, and see the large collection of marine species — birds, mammals, fish, cnidarians, and other marine organisms totalling about 16,000 individuals of 450 species.  It’s located in Parque das Nações, the area that was chosen as the location for the Expo '98 World Exhibition. You can walk and discover the many interest points of this new architecture example area.
Parque das Nações
9 – Eat Pastéis de Belém and take a journey into the Discoveries time.
Belém is a wonderful place, with a lot of monuments of the Portuguese discoveries time, such as the Tower of Belém, the Mosteiro dos Jerónimos, and more recently the Lisbon cultural centre with a lot of good art exhibitions. It’s not very far from the Lisbon’s centre, and is where you can eat the delicious pastéis de nata, a Portuguese egg tart pastry. These pastéis can be found for all Lisbon, but I am pretty sure that you’ll eat this ones warm out of the oven and sprinkled with the cinnamon and powdered sugar, and you’ll never forget them!


10 – Take a day to go surf, bodyboard or do kytesurf.
There are a lot of beaches near Lisbon, you can go to Guincho or to Caparica, which are very good for the practice and to take a one day lesson. At the end of the day, you’ll be presented with a very nice sunset on the ocean. It’s definitely one of the things you must do if you come right to the European capital that kisses the Atlantic!

Note: If you come to Lisbon during the 13th of June, you can also experiment the crazy Santos night. From the 12th to the 13th of June, the entire city comes to the street to celebrate its patron, the Santo António. You can see the colorful popular marches, eat sardine in the bread, drink wine and dance in all the city center streets! The city is full of life in that night, it’s easy to talk with everyone, discover new places, and listen to our traditional music.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

2011 começa agora!


O ano começa agora para mim. Antes disto, trabalhei que nem uma jumenta para cumprir todos os prazos de entregas de trabalhos. Quando tinha tempo, a minha cabeça estava cheia de preocupações e não me deixava estar bem.
Senti-me sem tempo para absorver tudo e respirar como deve de ser! E prometi a mim mesma que começarei a trabalhar antecipadamente. A culpa foi do Saramago! Na quinta passada fui ver "José e Pilar", que me tocou profundamente, e me deixou absorta em algumas questões da vida. Saramago disse que tinha um limite de 2 páginas por dia para escrever o seu livro. Pensei que era realmente uma boa táctica. Duas páginas por dia, e um livro escreve-se num ápice! Porque não aplicar isso à vida? A pouco e pouco custa menos do que fazer tudo à última.
Confesso que sofro do síndrome de deixar tudo para a última, e que assim as coisas me correm e saem melhor, mas com limites diários poderei sentir-me melhor comigo mesma, e evitar o stress que ultimamente tenho sentido com todos os prazos.

Hoje esteve um dia bonito de sol. Frio, mas bonito! Tive tempo para as pequenas coisas boas da vida. Passear com as cãs, sentir o cheiro da relva húmida, e absorver os raios solares. Que bem que sabe sentir o calor do Sol a entrar em nós... Parece que consegue aquecer a alma! :)
 Que bem que sabem este dias tranquilos. Afinal, para que serve a vida, senão para a vivermos?
 Não percebo sequer qual a finalidade de às vezes entendermos a vida como sinónimo de sacrifício, luta e trabalho. O que fica no fim disto tudo?

Entretanto, o meu cérebro não pára... preciso de voltar à meditação! Bem o quero tranquilizar, mas ele não se cansa...
Agora, decido material fotográfico. Triste fado este de gostar de fotografia... não é um hobby barato, e revejo mentalmente se as minhas escolhas são acertadas. Valerá a pena?
Acho que sim!

Viver com a alegria de uma criança! - esse é o segredo para ignorarmos todos e vivermos felizes à nossa maneira :)

E bom 2011!!! Nunca é tarde para nos repensarmos. Nunca é tarde para decidirmos que as oportunidades são criadas por nós. Nunca é tarde!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O destino faz-se caminhando



   Eram quatro da manhã quando o meu autocarro chegou a León, Espanha. Diogo, o meu amigo que estagiava na cidade, esperava-me para a festa pagã de San Genarín que se celebrava naquela mesma noite da Semana Santa.
    Não era importante a viagem inesperada que tinha deixado para trás, nem a súbita decisão de o ir ver. Tudo bateu certo.
    - “Diogo, tal como vim, não tenho planos! Não sei o que podemos fazer por aqui.”
    Como pessoa enérgica e idealista que é, disse-me logo com os olhos verdes bem vivos:
    - “Tens mochila? Saco-cama? Tive a ver o tempo, vai estar bom! Amanhã vai-se para os Picos da Europa!”
    Amanhã será, no amanhã assim foi. De mapa na mão, seguimos à boleia em direcção a Norte. E, como sempre as previsões meteorológicas funcionaram...Já à entrada do Parque Nacional dos Picos da Europa a nossa boleia anunciou que ia voltar para trás. Nevava bastante e não estava preparado para seguir caminho.
     A nossa decisão foi a de ficar. Tentaríamos a sorte, porque não fazia sentido desistir agora. Claro que as vestimentas não se apropriavam à neve: os meus ténis de montanha, aliados às minhas calças de ganga rotas, faziam a perfeita combinação com o meu gorro de pom-pom no topo. Só escapava o semi-impermeável. O Diogo sempre tinha uns ténis-bota e uma capa comprida de tecido forte.
    Caminhámos até à placa que indicava uma aldeia a 1km para Oeste. Não passavam carros, e o caminho da estrada principal começava a ser só gelo. Teria de dar por ali! E quando já custava caminhar na neve que nos dava por cima dos joelhos, e nos questionávamos do porquê de algumas das nossas decisões, vimos um carro a vir ao longe: um jipe parou ao nosso lado, e um senhor de cabelo grisalho e cara magra abriu-nos a porta preocupado:
    -“Pois que fazem aqui fora com este nevão?!” – disse-nos num espanhol apressado – “Entrem, entrem.”
    Trocou algumas palavras com o Diogo, que fala espanhol fluente, e ficámos a perceber que era o padre da aldeia. Diogo explicou-lhe o que fazíamos ali, e que queríamos pernoitar num abrigo de montanha mais longínquo.
   -“Será impossível lá chegarem. Vocês apanharam o nevão do ano. Os acessos estarão cortados.”
    O prestável senhor parou o jipe em frente a uma das poucas casas daquela aldeia rústica, e à porta apareceu uma senhora idosa, dos seus 80 anos. Trocaram algumas palavras, e disseram-nos para entrar.
    Nessa tarde, aquecemo-nos à lareira de uma pequena cozinha velha, foi-nos servido um café quente, e deram-nos dois pares de galochas para a neve.      
 
Pernoitámos numa antiga escola, no cimo da aldeia, que agora estava remodelada, com paredes firmes e janelas modernas. Será um bar para atrair os mais jovens, disseram-nos. 
    Soube que nem ginjas (aliás, melhor que ginjas!), aquele lugar esquecido, a companhia de alguns habitantes que apareceram ao final da tarde para comer uns “cacahuetes”, e a lenha que apanhámos e que, embora húmida, nos tenha permitido adormecer nos nossos sacos-cama, sem que sentíssemos a tempestade que se fazia lá fora. Pela janela, a neve caía intensamente embalada pelo vento forte, como que ao ritmo dos relâmpagos que iluminavam a noite por instantes... Adormecemos tarde, entre conversas incentivadas pelo “licor de hierbas” que trazíamos na mochila. Calhou-nos bem aquela alcofa improvisada e quentinha, em que nos sentimos realmente tranquilos.
    Acordámos com a visita do padre, e com uma aldeia pitorescamente branca.-“Apressem-se para o pequeno-almoço!”- disse-nos.
    Na casa da senhora que nos tinha recebido estavam agora mais 3 pessoas de rostos marcados pelo tempo. Enquanto nos foi servido um café, sopa e lentilhas, foram trocadas conversas... naquela aldeia que parecia ali esquecida e nunca visitada, já não haviam crianças nem jovens... a pessoa mais nova estava ali presente, e teria uns 50/60 anos. Rostos cansados de gente que sempre trabalhou para viver, mas que nunca recusa a confiança e ajuda a quem poderá passar, mesmo que por engano...
    Na memória ficam os momentos de silêncio trocados naquela cozinha, quando os pensamentos se perdiam... ouvia-se apenas o crepitar da lenha na lareira, e o tempo parecia mesmo parar. 
    “Valeram-nos mais que ouro, aquela gente a quem prometemos voltar um dia!...” Lembro a um Diogo bem-disposto e ainda absorto no que tinha acontecido.

   “There is no destination. The journey itself is the essence of life experience.” Li um certo dia. E não é que, quase sempre, faz todo o sentido? 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A vida dá voltas...

... e às vezes não sabemos onde vamos parar, não é?
E quando surgem as dúvidas o que é que fazemos? Tomam-se decisões? Ou deixamo-nos andar?
O que fazer ao medo de escolher um caminho errado? Tento sempre convencer-me que podemos sempre voltar atrás e fazer uma nova opção. Mas pode nem sempre ser assim...
A minha visão tranquila e optimista das coisas até onde me pode levar nisto? Quando penso no que fazer à vida, e tento ver onde vai dar o caminho que escolhi desta vez!
Neste mundo, infelizmente não há só vida boa. Alguém inventou que o Homem constrói-se com luta, trabalho e sacrifício... que é para depois morrermos todos iguais e nada disso importar.
Não sei que luz buscar que me diga para onde seguir! Porque já me questiono sobre a minha formação, sobre o futuro dela, e sobre o seu sucesso. Gosto de estudar, sim. E por isso não me arrependo de ter um curso. Mas agora, que escolhi outro caminho para os meus estudos, é altura de perguntar até que ponto quero isso. Para onde vou eu?
Mais nova não fico... e isso é coisa que temos de nos preocupar nesta sociedade... porque a idade influencia o encontrar trabalho, e o trabalho influencia o dinheiro que se tem, e o dinheiro que se tem influencia-nos a nós (Descobri eu recentemente).
Não traz felicidade. Tá bem. Mas ajuda muito, caramba! Porque eu, que sou pessoa que não gasta e não pede muito, estou triste por não poder ter o material que quero e preciso.
E então? Que caminho se escolhe? Para onde se vai?
Estabilidade ou desvaneios? Quando é a altura certa para mandar esta sociedade dar 1 curva e procurar o nosso caminho?
Se não continuo os estudos, faço o quê? Estou curiosa para saber onde vou chegar... mas tenho medo que quando o descobrir, seja tarde para virar no caminho!
Nunca se pode ter tudo, pois não? Mas se optarmos bem, conseguimos ter tudo a pouco e pouco! Ou vamos prescindindo de algumas coisas, porque vamos querendo outras.
Quem me dera não me sentir nesta encruzilhada. No entanto, gosto de sentir que posso fazer escolhas, ou posso deixar-me ir e saborear...e no fim, sorrir de tudo isso!
Tenho saudades de viajar...isso sim... e mesmo que o possa fazer com pouco dinheiro, sem ele, é impossível!
Caminhos, caminhos... quem me manda a mim querer tudo!!!

Sei que a pouco e pouco vou sendo feliz e tendo o que quero. A vida é feita de oportunidades e opções. E há estes dias, em que sinto que há escolhas a fazer... porquê? Não sei! Mas ainda bem!