segunda-feira, 19 de julho de 2010

E por estas Itàlias....


E se trabalhar em Agosto em Lisboa é uma boa ideia, estar em Agosto em Roma é tentativa de suicídio! – ou pelo menos assim o vejo... pela quantidade de água que destilo naturalmente só por caminhar um bocado nas ruas...
E com isto, anuncio que se está quase a acabar! Mais umas semanitas e regressarei... Isto porque a faculdade diz que tenho de voltar obrigatoriamente para tratar dos 1500 relatórios que tenho de entregar... Ou seja, nada de poder fazer umas viagenzinhas por essa Europa fora...
Sendo assim, e como Verão que é Verão é em Portugal, organizo já as minhas férias, e espero, confesso, ansiosa o retorno ao meu cantinho.
Roma não se despede de mim, mas eu já me vou despedindo dela... Está calor demais para ter vontade de percorrer o que quer que seja, as praias, de uma areia preta que nos queima os pés e de um mar quentinho que nos faz não querer sair, estão cheias de gente, e nem à noite consigo dormir sem a ventoinha ligada.
E Roma aqui continua, impenetrável, sempre com o seu aspecto firme, parece no se cansar nunca de receber mais gente... Os concertos e eventos à noite nos monumentos antigos já começaram. Já sei o que pôr na minha agenda: algum reggae, um pouco de Amelie Poulain, e uma ópera à noite nas Termas de Caracalla... vá, porque há coisas que não se podem não viver quando há oportunidade para elas!
De facto, esse é mais um problema para mim do que um mote a seguir. Nos últimos meses a minha cabeça não parou de engendrar o que fazer depois disto, o que retirei de tudo isto, e para onde quero ir... Meses cansativos para a minha pobre cabecinha...exausta de nunca estar satifeita muito tempo em nenhum lugar! Os resultados deixo comigo, por enquanto. Até porque acho que só absorvirei esta experiência quando aí chegar.
De resto, assim tem de ser, seguem-se feelings, pensa-se, perdem-se oportunidades, e ganham-se outras! O mundo não pára, e a minha cabeça parece que também não!
O trabalho na empresa escasseou, e com o calor nem há vontade de fazer a hora de caminho que devo fazer... As gentes na paragem do bus avizinham-se e queixam-se entre dentes do calor que faz e dos autocarros que teimam em não passar... “Eh..”-respondo eu...Nunca percebo estes horários!
Tentei queixar-me de não estar a fazer nada...puseram-me a ler sobre a pirólise em italiano, e a escrever sobre a mesma em inglês. A empresa desapontou-me um bocado, e nem sei ao certo se podia ter feito mais para o evitar... No entanto, continuo a fazer as minhas coisinhas, a socializar, e de vez em quando mando-os fancculo e vou dar uns giros. Desde que não vos escrevo que muito se passou, como é óbvio. Assim que o sol começou a espreitar mais convictamente fui de fim-de-semana com uns amigos italianos para Gaeta. Localidade entre Roma e Nápoles, na costa oeste, para onde vão os italianos quando querem fugir um bocado às praias apeadas de Roma. Muita vida à noite, bons gelados, óptimos crepes, grappa, limoncello, pastas e marisco do bom!

E por estas Itàlias... (parte 2)



Entretanto tive visitas, fiz turismo, começou a altura dos aperitivos, onde se pede 1 bebida pela módica quantia de 6 euros e se pode tirar do buffet tudo e quantas vezes conseguirmos...O bairro de Trastevere foi-se enchendo de gente, e as noites mais convidativas a lá ir, mesmo sendo 1hora a pé de minha casa...
Mas o que antes era um caminho agradável de se fazer, com passagem pela Via del Corso, Piazza Venezia, percorrer a avenida sempre cheia que vai dar ao coliseu, restícios de antiguidade de ambos os lados, coliseu em frente, depois subir até San Giovanni, descer a Appia Nuova e arrivare a casa, agora é algo que simplesmente se deve pensar muito bem antes de o fazer...Eu sei que há muitas fontes pela cidade, mas penso ser penoso demais caminhar arriscadamente pelas pedras da história, ver gentes e gentes, monhés a vender de tudo, homens-estátua, artistas de rua que tocam e pintam, romenas a pedir dinheiro e cães exaustos de língua de fora. Roma está para um jardim fresquinho, como em Lisboa se está para uma jola a 1euro! (regra de 3 simples, simples!)
Primeiros feriados em Itália? Sol? Vamos para o Lago de Martignano com o pessoal. Sítio de gentes tatuadas, de rastas, ou não, que bebem cerveja e fumam. Trazem sempre consigo os cães que nos deliciam o dia com as suas gracinhas. Música, churrasco, relva, sombra, lago à frente, e em redor apenas colinas verdes. Parece que estou na Nova Zelândia, mas “só” estou numa antiga cratera vulcânica! 
Começa o Mundial, sai-se do trabalho mais cedo para ver Portugal. Tento vestir-me a rigor e preparar o congelador com cervejinhas frescas, mas é difícil. Primeiro sempre me questionei porque é que nunca tenho nada verde e vermelho para vestir, e segundo porque é que onde quer que vá vejo sempre 1 espanhol com uma bandeira às costas...desconfio que dormem com elas e as levam para qualquer deslocação que façam...pode sempre dar jeito afinal! “Voy a Roma de vacaciones? Qué me llevo? AH! Si! La bandiera, por supuesto!”
Os primeiros jogos vejo-os em casa de amigos, ainda chuviscava às vezes... Nem um mês passou para se notar a mudança no tempo, que aquecendo, leva-nos a todos a ir para o ecrã gigante que puseram na Villa Borghese. Festa! Cerveja cara, por isso traz-se de casa. Portugal-Espanha. Digo-vos já que ainda bem que a Espanha ganhou, porque deviam ser só eu, o Zé, os italianos que estavam comigo vestidos de vermelho e verde, e mais 3 gatos pingados, para 5000 espanhóis. Que tristeza de festa pós-jogo seria...só nós aos pulos no meio.... Que tristeza que é não saber onde se metem os portugueses nestas alturas... quando antes chegávamos a todo o lado!
Fins-de-semana de Verão? Explora-se de comboio o Lago Bracciano. Assiste-se a trovoadas brutais. Autênticas descargas de energia em pleno lago interior. Vê-se claramente a chegada das frentes, o vento, as nuvens que crescem e escurecem, e chega a chuva em gotas pesadas. Relâmpagos e trovões ao mesmo tempo. Abrigamo-nos, e meia hora depois, podemo-nos ir esticar de novo.  Que bem estive em Bracciano...como 1 pequena cidade medieval que se manifestava contra a privatização da água em Itália.
Ladispoli, San Severo, Santa Marinella...praias a não mais que 1h de Roma. Está-se bem até ao fim do dia. Concessões e mais concessões estragam as praias. Pequenos espaços de praia livre para quem no quer pagar 1 cadeira e 1 chapéu... Itália está toda assim, e ninguém os educa a ser de outra maneira... Se digo que vou a Cinque terre, parque natural, património Mundial da UNESCO, ficam a olhar para mim e dizem: “Onde é isso?”, ou então: “Mas qué que vais lá fazer? Tens sítios muito melhores em Itália!”
Cinque terre foi o último sítio onde fui, e é um lugar maravilhoso (ainda bem que não dei ouvidos aos italianos)... 5 terrinhas, aldeias pitorescas da região da Ligúria, entre verde e azul. Como património da Unesco está tudo bem cuidado, nada que não pode ser de espantar, visto que as aldeias não são baratas, e se quisermos fazer os percursos pedestres pelo meio do parque, temos de pagar um cartão consoante o número de dias que queremos usufruir. Mas vale a pena. Cada terrinha é uma descoberta pelo meio do verde, e podem aceder-se também de barco ou, mais eficientemente, de comboio. Estão ligadas pelos percursos pedestres que nos fazem respirar a Natureza, observar a linha de costa e encontrar praias escondidas de azul límpido. Pessoas simpáticas são facéis de encontrar e de conversar. Em cada dia, se quisermos, aprende-se sempre por ali. À noite, observa-se o céu estrelado e ouvem-se as cigarras. Nada mais.
Ao voltar para Roma descobriu-se ser mais conveniente parar em Pisa. Tempo de se voltar a respirar cidade, mesmo que pequena e agradável. Tiram-se fotos imaginativas com a torre, e espera-se a ainda em falta viagem de 4h para Roma.

E por estas Itàlias... (parte 3)




Para terminar resumo: Sicilia, de avião conseguem-se viagens muito baratas. Palermo-Catania-Etna-Palermo. Ilha mais curiosa do que bonita. Cidades porcas e confusas. Não lhes tiro a história imensa que têm, mas ligo mais às personagens que se vão encontrando pela rua. Carros com música altíssima são a melhor moda. Ver e ser visto reina. Mas nada a dizer da simpatia dos acolhentes, nunca me senti insegura, percorri tranquilamente as ruas dos mercados e cafés escondidos, observei os pormenores, experimentei pizza, arancini, gelados em brioches (delicia do céu!), cannoli, e tanto mais... Mondello, a praia perto de Palermo, foi o primeiro contacto em Maio com água incrivelmente azul. Não estava ainda muito quente.
E a minha delícia vai para o extraordinário e imponente Etna. O maior vulcão da Europa e ainda activo é 1 espectáculo que não podia perder de perto. Grutas vulcânicas, paisagens de cinzas, bombas de lava enormes, e ele sempre ali, impávido, aparentemente sereno e coberto de neve. Tanto que aprendi naquele dia! Provei o delicioso mel que se faz por ali, o vinho das suas terras férteis, observei e absorvi! Brutal!
Ilha de Malta. Sim... todos questionam o que há em Malta? E eu digo: ide lá por favor! Vale toda a pena. Lugar onde estive e de onde não queria mesmo voltar. Vida barata, pessoas extremamente simpáticas e prestáveis. Desenvolvi bastantes diálogos com autóctones que me falavam num inglês perceptível mesmo que tivessem 80 anos. Contaram-me experiências de vida, e tinham sempre 1 conselho a dar. Aprendi sobre a vida dos antigos, os costumes, e as viagens que faziam para a Austrália porque o governo os mandava para conseguirem empregos em terras que precisavam de mão-de-obra (Outros tempos!). Andei em autocarros castiços, amarelos e cada um diferente e com as suas particularidades, por 47cêntimos (e querem acabar com eles). Girei as 3 ilhas (Malta, Gozo e Comino). Em Gozo resolveu-se caminhar junto à costa, mergulhar onde se podia, apanhar boleia de tractores que iam surgindo, comer em supermercados no meio do nada, descobrir praias escondidas, ver se morriamos num barquinho como o do lago do Campo Grande em pleno mar agitado (tive mesmo medo!), caminhar por campos agrícolas (porque estávamos um bocado perdidos) e encontrar um Festival do vinho numa vila no meio do Gozo! Que boa recompensa depois daquele dia! E que bom termos boleia de um habitante que se ofereceu para nos levar à vila onde estavamos num apartamento com 3 quartos por 10euros à cabeça. Pessoas boas, conversas interessantes, preços mais que acessíveis, e Comino! A ilha onde no há nada, a não ser 1 hotel e 1 parque de campismo, e a famosa Blue Lagoon.... àgua de 1 azul que faz mal aos olhos. Parece piscina, mas não é!... Imagino que no Verão seja impossível estar-se em paz ali. Como já o era naquele dia de Junho, mas, a partir das 17h a lagoa era quase só nossa! Os bifes jantam cedo :)

Aprender, viver e absorver é o que vos desejo a todos, meus caros!
“Façam o favor de ser felizes”- já o dizia Raul Solnado e com extrema razão!

Que agora espera-me Portugal!

Factos: os relatórios de entrega das sms pagam-se, mesmo que se tenha as sms grátis!!!! Sentido? Mas qual sentido em Itália?! “Para que queres os relatórios?” - perguntam-me os italianos!
Museus do Vaticano grátis no último domingo de cada mês? Sim. Estive lá. À segunda tentativa... na primeira descobri que era só até ao 12h30. :) Mas pronto, Capela Sistina? Checked! Vale a pena? Os museus são demasiado extensos, sai-se de lá completamente exausto para o resto do dia… Se for grátis, vale a pena!


ATÉ JÁ!

Tudo bate certo...


Tudo!

Estar aqui, sorrir no autocarro porque me sinto bem.
O Sol de manh
ã que me bate na cara enquanto espero os autocarros que nunca passam a horas.
O metro cheio até à estaç
ão de Lepanto, depois posso conseguir um lugar para me sentar.
O caminho que faço até ao trabalho. O supermercado que fecha à 13h30. O "Ciao" dito quando chego. As conversas que se trocam por acaso na sala de trabalho.
O corropio das fotocopiadoras e impressoras. Os mails a avisar que a impressora X n
ão vai estar disponível até às 15h.
O caminho de volta. O escurecer tarde. O trânsito de 6a feira.
Os romenos que pedem no metro recorrendo às crianças. Os que pedem com o auxílio de um microfone e música ambiente.
A rotunda de Re di Roma. As pessoas com algum tipo de distúrbio que se vêem sempre a passar. Típico de cidades grandes. Há quem n
ão se aguente. Há quem não se encontre. Ou há quem seja feliz assim ?!
A rua Vercelli, a minha morada.
A tranquilidade, a sensaç
ão de estar em casa. As lojas de tudo o que precisamos. Os prédios altos. Os vizinhos, as janelas abertas. Os terraços. O movimento das sirenes e as buzinadelas sem respeito pelas horas nocturnas.
O apito do elevador quando chega ao seu destino. E o cheiro a casa.
Tudo bate ceto.